29 de set. de 2009

Plano

Ora, quem diria. Eu, que não sei nem o que vou jantar em meia hora, tenho um plano. Um objetivo.
Pra ser sincera, eu queria esse plano à muito tempo, e alguns fatores me levaram a colocá-lo em prática, de ontem em diante.
Eu poderia culpar muitas pessoas por tal plano. Mas não o farei. A culpa é minha e de mais ninguém. Os valores perdidos são meus e de mais ninguém. E eu vou errar. De maneira exagerada; espetacular. Aguarde e verá.
Se tudo der certo, eu vou errar convicta, de cabeça erguida, perder noites de sono me arrependendo. Vou esquecer o que é amor-próprio e esquecer quem sou eu.
Vou pedir perdão milhões de vezes (mais uma vez) e vai ser tarde demais. Amém.
Agora, sejamos sinceros, não sei se conseguirei me manter fiel ao objetivo inicial. Pra me desmontar só é preciso um sorriso. Um olhar de soslaio. Infelizmente, nada mais.
Talvez agora eu me sinta um pouco melhor. Agora você está pronto pra se defender da minha estupidez, e eu deixo aqui minha confissão; quem sabe na esperança de que o tempo reduza minha sentença.
Estou pronta pra perder. Não vou nem mesmo lutar. Vou estragar tudo e deixar que você me derrube. Lá embaixo, onde será meu lugar.

26 de set. de 2009

Replay

Em minha mente, tudo é eco. Ecoa meu sentimento, o mesmo aroma, ecoam as mesmas notas.
Diante dos meus olhos, o mesmo filme vai e volta, rápido demais para que eu possa cansar. O filme começa, acaba. Quando ele chega ao fim, não consigo prestar atenção nos créditos. Não consigo nem mesmo assistí-los. Com os olhos marejados, aperto o play e vivo tudo mais uma vez.
Cada vez que o filme é exibido novamente, eu percebo melhor a trama. Encontro vilões e vítimas que nunca havia reparado.
Toda vez que aperto o play, a trilha sonora me leva longe. Não sei se ainda me dói. Mas me leva pra um lugar mais fácil e mais intenso.
O som do piano se confunde entre os gritos da multidão, e de repente some, porque o filme fica mudo. Não há mais som. Só imagem. Só sensação. Aliás, sensações. Tudo fica em câmera lenta. O filme quase pára naquele instante. Então a cena acaba, e as coisas voltam a ficar rápidas demais. O filme oscila. Falha. Depois acaba, mais uma vez. Hora do relpay.

Feliz aniversário. Três meses que talvez não devam ser comemorados, mas merecem ser lembrados. Parabéns.

21 de set. de 2009

Gotas de felicidade


Mariana andava cansada. Mariana andava ocupada demais, e não queria mais brincar.
Mariana ia ao colégio pra fugir de casa, ao trabalho para fugir do colégio, pela rua para fugir do trabalho; andava de ônibus pra fugir da rua, voltava pra casa pra fugir do ônibus. Em casa, Mariana dormia pra fugir de si, e acordava pra fugir de seus sonhos - já que até mesmo estes se convertiam em pesadelos.
Melodramático, eu sei. Mariana também sabe, mas ela está sem ação. Mariana chegou ao ponto da vida no qual não sabe mais o que fazer.
Nesse momento, Mariana está fugindo da rua. Pela janela, ela observa o céu fechado acima de si. Tudo o que ela pede é para que a chuva espere um pouco mais. Está quase na hora de descer.
Mas é claro que a chuva não esperou. Assim que a porta do veículo se abriu para que ela pudesse sair, a água começou a bater sonoramente nos telhados das casas e nos cabelos das pessoas apressadas que corriam. Mariana teve vontade de rir. Era irônico que alí e agora começasse a chover.
Ela desceu, e esperou que o ônibus seguisse para poder atravessar a rua. Durante estes poucos segundos, ela estendeu sua mão até a bolsa para pegar o guarda-chuva velho. Mas desistiu.
Quando voltou seus olhos para a rua, ela estava vazia. A chuva caía em suas bochechas de maneira constante e firme. Não caía forte. Ela caía consistente. E Mariana se libertou.
Nunca demorara tanto para percorrer o pequeno trecho até sua casa. Sentia cada gota lhe escorrer pela face, ouvia o silêncio da chuva. Observava as árvores em volta de si, e sentia o cheiro do ar.
Mariana dançava na rua vazia, andando em direção ao lar. Naquele momento tudo sumiu. Não havia passado, futuro, nem presente. Não havia cansaço. Não havia pessoas. Havia Mariana. A rua, o mundo... E a chuva.
Naquela noite, Mariana jantou em silêncio, ainda encharcada. Sorria para si. Leu um livro. Tomou um banho quente e dormiu. Acordou sem saber o que havia sonhado.
A garganta lhe doía devido ao banho de chuva do fim de tarde anterior. E pouco importava. Novamente, Mariana sorria. Revigorada, a menina indecisa sabia que caminho seguir.

18 de set. de 2009

Mais uma vez

Mais uma vez eu procurei minhas palavras em mãos alheias. Em outras mentes. A diferença, é que dessa vez eu encontrei.
As aspas que se abrem logo abaixo, provam que este não é um plágio. É um eco. É tudo o que eu queria relatar e não pude, não por falta de tempo, mas apenas por medo de descobrir o que iria dizer. E que fique registrado que eu sou fã do Caio. Porque o Caio entende, mesmo sem ouvir.

"Carta
Meu amor, aposentei as minhas cartas. De nada adianta escrevê-las se já está formada em minha cabeça a verdade de que nunca irão respondê-las. Meu amor, desisti dos textos longos e sinceros pois a verdade nem sempre é conveniente e, muitas vezes, você não entenderá o que digo. Meu amor, desisti das palavras curtas pois já não as domino mais, o texto que era lacônico virou prolixo e, este, é chato de ser transmitido. Meu amor, abandonei mesmo as cartas para ti pois não vejo mais em seu coração um fogo ao recebê-las, talvez elas fiquem de canto para sempre, esperando o tempo ler as palavras que foram – tão delicadas – escritas naquela folha de papel amassada. Meu amor, deixei de lado as minhas vontades porque a prioridade se tornou você, meu ego se perdeu e meu orgulho foi ferido e, infelizmente, não há ciência que cure tal buraco. Meu amor, se um dia leres minhas cartas com a mesma paixão que as escrevi, entenderá um pouco do que sinto, terá um pouco mais de mim, verás que eu já não minto. Se um dia poder entender as minhas palavras com paixão, saberá que não houve no mundo homem que te amou como eu, que seus cabelos loiros são os únicos cheirosos, que seu corpo é o único que já me excita, que meu mundo já não girava sem o seu respirar. Meu amor, paro por aqui, pois fui mentiroso, disse que aposentaria as minhas cartas e, de novo, sem perceber, rabisquei outra.

Meu amor, quem sabe um dia você me retorne, com todo o sentimento, e corra atrás de alguém que já se foi com o vento." (Por Caio Caprioli, 23/10/2008)

14 de set. de 2009

A magia de Sophia

Confesso que a paranóia começa a me rondar. E a culpa, é claro, é de Sophia. Porque todos querem Sophia. E Sophia, orgulhosa, não quer ninguém.
Daí, Sophia sai pra passear, e por onde passa, Sophia arranca olhares. Por onde Sophia passa, nascem versos, ecoam suspiros, vibram cordas de violão. E Sophia sorri, autossuficiente. Afinal, todos sabem que o mundo é de Sophia. Agora me conta, o que Sophia tem de tão especial?
Mas por favor, não pense que eu invejo Sophia. Prefiro minha dependência à sua autossuficiencia. Porque se o mundo é de Sophia, eu sou Gabriela. Ontem, hoje e sempre, Gabriela.

12 de set. de 2009

Somente se realmente lhe interessar:

Esse texto não é um conto, nem crônica, nem poesia, nem nada assim. Talvez seja carta, endereçada você sabe à quem. Esse é meu pedido, minha pergunta, minha indagação. É a expressão inapropriada de sentimento em fluxo, sem censura nem edição.

À você sabe quem:

Eu não sei bem por onde começar: pelo pedido, pelo agradecimento, pelas perguntas. Nem sei se farei tudo isso. Como solução, seguirei a ordem alfabética.
Muito obrigada. Por ter sido tudo o que foi. Por ser tudo o que é. Você me mostrou uma sensação que eu jamais tinha conhecido com plenitude. E por isso eu te digo: és louco. Isso nada muda o que eu sinto por ti. Obrigada por todos os dias que você transformou, e por todos os lugares aos quais você me levou. Muito obrigada.
Às vezes eu me pergunto... Se tudo isso foi sincero. Se você se arrepende de ter feito o que fez, e eu não me refiro ao fim; me refiro ao primeiro passo. Me refiro ao fato de você, só Deus sabe o porquê, ter optado por mim. Me pergunto se você talvez conheça o amor, como diz que o faz.
Por favor, não encare minhas perguntas como ríspidas ou rancorosas. São simples questões, que me torturam não através da dor, mas através da própria curiosidade.
Enfim, eu cheguei aonde quero chegar. Meu tardio, sufocado e acima de tudo, sincero pedido de desculpas.
Perdão. Perdão porque eu deixei que acontecesse, e aproveitei cada segundo. Perdão, porque eu me aborreci sem saber o motivo. Perdão por eu ter me deixado levar, ter deixado que você me levasse. Perdão por ter deixado morrer, e tentado ressuscitar. Pela minha hipocrisia, pelo meu exagero, por todas as vezes em que fiquei em silêncio quando deveria falar. Perdão por expor meus sentimentos na hora errada, perdão por ainda te amar. Perdão por ter te feito esperar, perdão por eu mesmo te amando, te distratar. Perdão por ter me deixado te deixar. Perdão por duvidar do que você sente, seja o sentimento que for. Perdão porque eu não sei o que sinto e sentir mais do que devo.
Pela minha falta de autocontrole, por te jogar a culpa. Porque eu te culpo. Toda vez que eu te sinto perto demais. Toda vez que eu te vejo triste, toda vez que eu te vejo rir. Toda vez que teus olhos brilham, toda vez que teu cabelo balança. Eu jogo a culpa em você. Perdão por eu não conseguir me afastar. Perdão por eu não deixar que você se afaste. Saiba que me dói, e mais do que isso, me envergonha agir assim.
Mas por favor, não se afaste. É meu maior pedido. Egoísta, eu sei. Mas vem do fundo da minha alma. É tudo que eu te peço, quase que desesperada.
Muito obrigada.

8 de set. de 2009

Je vous hais

Comment pourrais-je vivre si tu n'estais pas là?

Porque em francês fica muito mais bonito.

2 de set. de 2009

Caixa

Cheguei cansada e abri a porta. Joguei o que carregava por cima da cama. E então a notei. Lá estava ela: entretida, preocupada e enxerida. Mexendo no meu armário.
Era notável seu estado afoito; sua pressa e quase desespero em conseguir o que queria. Desde quando a vi eu sabia, ela queria te levar.
-O que está fazendo? - perguntei ainda em choque. Nosso tratado implícito de amizade não incluía invadir a minha casa e revirar o meu armário.
Foi quando ela me notou. Deixou que seus braços caíssem ao longo do corpo, respirou fundo e virou-se para a porta da qual eu ainda não conseguira desencostar.
Seus olhos refletiam sua preocupação, e antes que abrisse a boca, ela voltou-se para o armário, para revirar mais uma gaveta.
-Você sabe que não pode ser assim. Sabe que não lhe faz bem.
Por Deus, o que ela sabia?
-Você não sabe o que diz, além do mais, mesmo que me fizesse mal, ninguém lhe deu permissão para estar aqui.
-Pouco importa, eu não vou deixar que as coisas continuem como estão. Você precisa voltar a viver.
Naquele momento eu percebi que não conseguia me mover, e tudo o que eu queria era tirá-la dalí. Fechar as portas, mesmo com o armário desarrumado. Apenas esquecê-lo. Porém, a única parte de meu corpo sobre a qual eu tinha controle eram meus olhos, que pouco a pouco se arregalaram, ao vê-la na ponta dos pés, de braços esticados, tentando alcançar a última prateleira.
Lá, a caixa de sapatos já empoeirada chamava atenção pelo embrulho de presente. Tudo que eu queria é que ela não a tivesse visto. Ainda restava uma esperança, que se desfez lenta e dolorosamente em segundos.
Aquela era a prova da qual ela precisava. Da minha insanidade, da minha incapacidade em deixar o tempo passar. Da minha incoerência.
Com a caixa nas mãos e os olhos na caixa, ela pôs os pés no chão, e logo seu corpo todo estava alí. Ela sentara no chão. Com a bela caixa nas mãos.
Foi quando eu percebi há quanto tempo tinha esquecido de respirar. Meu peito foi invadido pela dor e eu puxei todo o ar que consegui. Voltei a respirar normalmente, e então, me apoiando na parede, sentei-me no chão diante dela, sem tirar os olhos da caixa.
A menina me lançou um olhar rápido, e então abriu minha condenação. Eu sabia que ouviria muitos sermões por causa daquilo, e já era tarde. Que fosse.
Pouco a pouco, ela tirou objetos aparentemente desconexos, sem sentido, de dentro da caixa: um peão de brinquedo, uma bonequinha de cartolina, fotografias, moedas, flores secas, papeis de bala, entradas de cinema, bilhetes e fios de lã. Tudo isso e mais um pouco.
Depois de um momento de contemplação, ela voltou seu rosto para mim, por mais que eu não tenha tirado o rosto da caixa para poder olhá-la.
Suas sobrancelhas arqueadas, me perguntavam com curiosidade o que era tudo aquilo. Porém, seus olhos não refletiam tal curiosidade. Seus olhos tinham medo da resposta.
E eu não respondi. Assim como você, ela já deduzira que aquelas eram minhas memórias. Ela só queria uma confirmação verbal. Pois ela não a teria.
Suas mãos percorriam a caixa, e foi quando ela fez a coisa mais cruel que poderia ter feito: identificou um pedaço teu. Os dedos deslizavam pelo papel, onde rabiscos revelavam que aquilo um dia te pertenceu.
Eu a encarei suplicante, enquanto ela me olhava com pena, quase sentindo minha dor. Afagou meu rosto e levantou-se, segurando-te nas mãos. Ela já estava de costas para mim quando resolveu falar.
-Acredite, é para o seu bem.
E ela te levou embora. Para ela, o último pedaço. Para ela, a parte que sobrou. Fechou a porta e se foi.
Eu continuei alí, sentada no chão, me concentrando em respirar. Puxei a caixa pra perto de mim, e vi quanto de você ela não soubera identificar. Quantos papéis e pequenas coisas não lhe faziam sentido como fizeram pra mim. Ela não percebeu o pequeno grande mundo, que pouco a pouco eu lhe atribui.
Pouco importa a pequena parte que a menina levou. Eu ainda tinha outros pedaços de você. E que ela levasse tudo. Todas minhas memórias físicas. Todas minhas realidades e todas minhas mentiras.
Nenhuma prova física do teu amor já inexistente que ela levasse, o tiraria de mim. Porque eu te puis em outra caixa, muito mais bem guardada, quando meus lábios te disseram que sim.
E essa ninguém encontra. Muita gente a toca, mas ninguém a leva. Em minha alma, você vive por inteiro. Nas batidas do meu coração, teu nome ecoa mais alto em meio a tantos outros.
E isso ninguém tira de mim. Nem ela, nem você, nem eu, nem o tempo.