21 de set. de 2009

Gotas de felicidade


Mariana andava cansada. Mariana andava ocupada demais, e não queria mais brincar.
Mariana ia ao colégio pra fugir de casa, ao trabalho para fugir do colégio, pela rua para fugir do trabalho; andava de ônibus pra fugir da rua, voltava pra casa pra fugir do ônibus. Em casa, Mariana dormia pra fugir de si, e acordava pra fugir de seus sonhos - já que até mesmo estes se convertiam em pesadelos.
Melodramático, eu sei. Mariana também sabe, mas ela está sem ação. Mariana chegou ao ponto da vida no qual não sabe mais o que fazer.
Nesse momento, Mariana está fugindo da rua. Pela janela, ela observa o céu fechado acima de si. Tudo o que ela pede é para que a chuva espere um pouco mais. Está quase na hora de descer.
Mas é claro que a chuva não esperou. Assim que a porta do veículo se abriu para que ela pudesse sair, a água começou a bater sonoramente nos telhados das casas e nos cabelos das pessoas apressadas que corriam. Mariana teve vontade de rir. Era irônico que alí e agora começasse a chover.
Ela desceu, e esperou que o ônibus seguisse para poder atravessar a rua. Durante estes poucos segundos, ela estendeu sua mão até a bolsa para pegar o guarda-chuva velho. Mas desistiu.
Quando voltou seus olhos para a rua, ela estava vazia. A chuva caía em suas bochechas de maneira constante e firme. Não caía forte. Ela caía consistente. E Mariana se libertou.
Nunca demorara tanto para percorrer o pequeno trecho até sua casa. Sentia cada gota lhe escorrer pela face, ouvia o silêncio da chuva. Observava as árvores em volta de si, e sentia o cheiro do ar.
Mariana dançava na rua vazia, andando em direção ao lar. Naquele momento tudo sumiu. Não havia passado, futuro, nem presente. Não havia cansaço. Não havia pessoas. Havia Mariana. A rua, o mundo... E a chuva.
Naquela noite, Mariana jantou em silêncio, ainda encharcada. Sorria para si. Leu um livro. Tomou um banho quente e dormiu. Acordou sem saber o que havia sonhado.
A garganta lhe doía devido ao banho de chuva do fim de tarde anterior. E pouco importava. Novamente, Mariana sorria. Revigorada, a menina indecisa sabia que caminho seguir.

Um comentário:

Taís disse...

É um dos meus preferidos gabi fodastica