23 de dez. de 2009

Em 2009...

Uma retrospectiva, ou algo bem parecido com isso.

Em 2009 eu aprendi que desejar um ano surpreendente é muito vago. Melhor eu desejar um ano perfeito da próxima vez.
Foi um ano interessante, e isso eu não posso negar. Foi uma série de testes, e eu não me saí tão bem quanto gostaria em alguns desses testes. Eu saio de 2009 uma pessoa mais forte e com os pés um pouco mais próximos do chão.
Em 2009 eu aprendi que guardar sentimentos de qualquer tipo não serve pra nada. Ou serve?
O stress que eu acumulei nos primeiros meses do ano acabou explodindo num ataque de raiva ridiculamente desnecessário, mas o mesmo ataque, acho eu, acabou me aproximando de quem teve coragem de enfrentá-lo.
O amor e a paixão... Estes eu não acumulei. Esses eu fiz questão de distribuir em sorrisos e suspiros.
A mágoa eu liberei aos poucos, num silêncio afiado que durou semanas, acabou por ferir outros corações. Todos sobreviveram.
A última parte do ano não teve nenhum sentimento repreendido. Houveram lágrimas infindáveis, gritos, abraços, sorrisos. Brigas. Laços cortados e estreitados. Laços reatados.
Palavras voaram por todos os poros do meu corpo. Eu nunca dissera tanto.
Contradições à parte, foi um ano de muito silêncio. Onde cada padrão sonoro ganhava um olhar fulminante de um eu reflexivo e perdido no tempo.
2009 foi um conjunto de contradições e falta de sentido. Uma volta de montanha-russa. Violenta, da qual você torce pra sair. 2009 acabou, e enquanto eu levanto da cadeira eu me vejo mais livre. Mais segura. Ainda que o coração tenha a batida irregular, ainda que o ar pareça faltar aos pulmões, eu me sinto mais calma, mais preparada pra viver.

13 de dez. de 2009

Maldito sejas

" - E tu, Augusto, quererás porventura requestar minha irmã?
- É possível.
- E de qual gostarás mais, da pálida, da loira ou da moreninha?...
- Creio que gostarei, principalmente, de todas.
- Ei-lo aí com sua mania.
- Augusto é incorrigível.
- Não, é romântico.
- Nem uma coisa, nem outra... É um grandissíssimo velhaco.
- Não diz o que sente.
- Não sente o que diz.
- Faz mais do que isso, pois diz o que não sente.
- O que quiserem... Serei incorrigível, romântico ou velhaco, não digo o que sinto, não sinto o que digo ou mesmo digo o que não sinto; sou, enfim, mau e perigoso e vocês, inocentes e anjinhos. Todavia, eu a ninguém escondo os sentimentos que ainda há pouco mostrei; em toda a parte confesso que sou volúvel, inconstante e incapaz de amar três dias um mesmo objeto; verdade seja que nada há mais fácil do que me ouvirem um "eu vos amo", mas também a nenhuma pedi ainda que me desse fé; pelo contrário, digo a todas como sou; e se, apesar de tal, sua vaidade é tanta que se suponham inesquecíveis, a culpa, certo que não é minha. (...) A alma que Deus me deu, continuou Augusto, é sensível demais para reter por muito tempo uma mesma impressão. Sou inconstante, mas sou feliz na minha inconstância, porque, apaixonando-me tantas vezes, não chego nunca a amar uma vez... (...) Sim! Esse sentimento que voto às vezes a dez jovens num só dia, às vezes numa mesma hora, não é amor, certamente. (...) Eu nunca amei, eu não amo ainda, eu não amarei jamais." (A moreninha, Joaquim Manoel de Macedo, página 6)

Maldito sejas, Augusto. Enquanto todas correm de ti, eu insisto em amar-te por achar que conheço o homem por trás de tuas palavras.

10 de dez. de 2009

Borboleta

Sempre fora óbvio a qualquer um que conhecesse o mais profundo do passado, que um vivia do outro e para outro. Porém, nunca fora tão óbvio para uma das partes esta tal verdade, até poucos dias atrás.
Voltas ao que passou sempre a divertiram, talvez pela perfeição imutável e intocável de tal passado, talvez pela impossibilidade real de tal retorno - e nós bem sabemos como o impossível a atrai.
Enquanto abria a porta do carro, a menina já quase mulher observava como a cena mudara. O cenário de um filme de terror. O cão do vizinho não latia à sua espera, nem as crianças corriam na rua, nem a velha senhora observava sentada na varanda. Nem estava lá a varanda, nem a casa, apenas um imenso vazio. Virou-se.
O próprio lar não lhe interessava tanto. Esticou os olhos para a casa ao lado, que se via abandonada, silenciosa e desbotada. O choque não foi tão grande, mas algo lhe disse para desviar os olhos.
A menina encarou a própria vida, e viu o abandono do outro, refletido no um.
A casa velha nunca parecera tão velha, as árvores nunca pareceram tão pequenas, apesar de sua grandiosidade. O jardim não parecera, sejamos sinceros - o jardim nunca fora tão mal cuidado.
As memórias a invadiam enquanto ela caminhava e as coisas voltavam a ter cor. Os móveis voltavam ao antigo lugar, e ouvia-se, no fundo, o eco dos pés descalços correndo pelo pátio. Os risos ecoando pelo ar.
A cada cômodo ficava mais claro que a dependência de ambos jamais acabara. A cena que era vazia, ganhava vida diante dos olhos da menina, que respirava aquilo que nunca deixou de acontecer.
A certeza de tudo isso veio no último espaço visitado: o quintal. Nele, as árvores frutíferas já não haviam. Nele, o cachorro travesso não veio pulando. A menina abria os olhos enquanto as memórias vinham até ela através de dezenas de sensações.
Mas voltemos aos olhos. Os olhos se abriam, e diante da menina uma borboleta girava ao seu redor afim de roubar sua atenção. A borboleta pousava em cada marco remanescente das memórias.
A borboleta sussurrava para a menina um "te amo, te amo" insistente e constante. "Eu sei" a menina respondia. Ela não precisava dizer que amava também. A borboleta sabia. Voou quilômetros e quilômetros e sussurrou a resposta ao outro, que soube, como nunca soubera antes, da verdade inegável que deu início à essa narrativa.
Restava, como ambos sabiam, o amor sincero da relação infindável e imutável que os uniu não por alguma cerimônia ou declaração; apenas pelo tempo.

3 de dez. de 2009


Acho que vez ou outra, todo mundo pensa uma coisa dessas. Quer dizer, é o tipo de ideia que se vê nos livros, nos filmes ou até mesmo nos amigos que resolvem compartilhar um arrependimento. A ideia do "E se...".
Adimito que nunca gostei muito desse tipo de ideia, porque sempre idealizei o passado. Foi o passado que te trouxe até aqui, e você sabe que o passado sempre vai estar alí pra você. Vai te amparar, caso você pense em cair. Te ensinar algumas lições. Essa baboseira toda.
Eu ainda levo fé nessa baboseira, mas enquanto caminhava entre as árvores, o "e se..." me assaltou. A paisagem emoldurava uma lembrança irreal, que me projetava num presente que eu nunca tive a chance de viver.
Na tarde ensolarada, enquanto minha pele queimava ao sol do meio-dia, meu corpo sentia o frio dos meses que há muito passaram. A multidão que já nem existia, sumia amedrontada pela lembrança que eu construi.
Eu encontrava os lugares onde estivera, via as marcas das minhas mãos na terra úmida, enquanto o ar era tomado pelo aroma perfeito. Um misto de cheiros: o vento, as flores, o amor e a pele. Doce e suave.
Os risinhos baixos invadiam meus ouvidos e traziam o calor de dezembro, contrastando com o frio do presente. A brisa me embalava e minhas mãos balançavam no rítimo de uma balada tocada no piano.
Eu sentia toda a segurança de estar rodeada de quem me quer bem, enquanto estes se afastavam pra me dar alguma privacidade. Um sorriso convicto. Um presente perfeito.
O imaginário e o real eram um só, e o "e se..." era parte de mim.
Era a certeza de que tudo estaria certo, se fosse como não foi.
Não me leve a mal, a cena ainda era bela, eu ainda sorria, mas me faltava algo. Me faltava a mentira que o "e se..." me contou.

1 de dez. de 2009

Dois

A gente brinca.
Até que a brincadeira acaba, a gente cai.
Enquanto se afasta do brinquedo, você jura que não vai mais brincar.
O briquedo te machucou e você nem lembra mais porque mesmo resolveu brincar.
O brinquedo continua parado e te esperando, no mesmo lugar. Sabendo que você vai voltar.