" - E tu, Augusto, quererás porventura requestar minha irmã?
- É possível.
- E de qual gostarás mais, da pálida, da loira ou da moreninha?...
- Creio que gostarei, principalmente, de todas.
- Ei-lo aí com sua mania.
- Augusto é incorrigível.
- Não, é romântico.
- Nem uma coisa, nem outra... É um grandissíssimo velhaco.
- Não diz o que sente.
- Não sente o que diz.
- Faz mais do que isso, pois diz o que não sente.
- O que quiserem... Serei incorrigível, romântico ou velhaco, não digo o que sinto, não sinto o que digo ou mesmo digo o que não sinto; sou, enfim, mau e perigoso e vocês, inocentes e anjinhos. Todavia, eu a ninguém escondo os sentimentos que ainda há pouco mostrei; em toda a parte confesso que sou volúvel, inconstante e incapaz de amar três dias um mesmo objeto; verdade seja que nada há mais fácil do que me ouvirem um "eu vos amo", mas também a nenhuma pedi ainda que me desse fé; pelo contrário, digo a todas como sou; e se, apesar de tal, sua vaidade é tanta que se suponham inesquecíveis, a culpa, certo que não é minha. (...) A alma que Deus me deu, continuou Augusto, é sensível demais para reter por muito tempo uma mesma impressão. Sou inconstante, mas sou feliz na minha inconstância, porque, apaixonando-me tantas vezes, não chego nunca a amar uma vez... (...) Sim! Esse sentimento que voto às vezes a dez jovens num só dia, às vezes numa mesma hora, não é amor, certamente. (...) Eu nunca amei, eu não amo ainda, eu não amarei jamais." (A moreninha, Joaquim Manoel de Macedo, página 6)
Maldito sejas, Augusto. Enquanto todas correm de ti, eu insisto em amar-te por achar que conheço o homem por trás de tuas palavras.
Sem pé nem cabeça
Há 10 anos
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