Primeiro, gostaria de te agradecer. Conheço bem tuas vontades e sei que gostarias de estar passeando de pés descalços no jardim. Em seguida, gostaria de te pedir perdão. Sei que já fiz mais por ti, e que cada minuto que arranco do teu tempo não volta mais.
Mas preciso ter essa conversa contigo. Por favor entenda, jamais faria nada pra te machucar. Se não trato-lhe com tanta pompa quanto teus outros súditos, é porque sabes o quão bem nos conhecemos. Que cuido de ti desde que vieste ao mundo e que não consigo me imaginar com qualquer outro trabalho neste reino.
Sinto que te devo explicações. Não penses que não entendo tuas vontades. Para ser sincera, sinto como se fossem parte de mim. E não te negaria nada. Nem um sorvete, uma tarde no parque ou um pôr de sol. Mas, infelizmente, os tempos são outros, e tuas urgências acabam ficando de lado quando comparadas à outros serviços que devo ao reino.
Veja bem, criança. Para cuidar de teus caprichos, para sustentar tua beleza, tua inocência que tanto me encanta, por vezes preciso afastar-me de ti. Mas por favor, não se sinta abandonada. Afirmo do fundo do meu coração que é somente você que faz o mundo girar. Que são seus olhos que me permitem ver o verde de nossos jardins e o azul de nosso céu. Que nada acontece sem que se tenha em mente os seus interesses. O seu sorriso. Que chegará o dia, cedo ou tarde, em que assumirá o posto de rainha, que se sentará ao trono, sorridente e de pés no chão.
Sem pé nem cabeça
Há 10 anos
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