17 de jun. de 2010

Intitulado

Há um par de crianças sentadas à beira da calçada. Elas sorriem, mal se tocam. Tem contato físico somente para que uma possa atestar a presença da outra. Estão calados. Estão crescendo.
Não se encontram mais simplesmente para brincar, se encontram para se encontrar. Ainda não dominam a arte da conversa. É uma fase estranha da vida que todo mundo deve passar. Mas não importa.
Estão juntos. Em silêncio. Atestando que estão alí. Sorriem. Apenas amigos.
Observam o céu e contam estrelas. Aproveitam a brisa do começo de verão. Trocam um olhar que não traz nada de inapropriado ou impuro. Não é nem mesmo um olhar confidente. É um olhar de conforto. Estarão alí para sempre.
Serão levados por caminhos diferentes. Logo.
Ela vai. Ele continuará no mesmo lugar. Ela sente saudade, ele também. Ela sabe disso, ele não sabe tão bem.
Ele a procura. Ela tem medo. Do novo, da distância, de sí.
Ela o procura. Ele se foi.
Anos se passam; ela continua encarando o céu. Uma estrela lhe sussurra um timbre e uma memória lhe assalta. O som de um riso calado, do farfalhar das mesmas estrelas. Ela se pergunta, não sabe onde está. Lhe escreve um bilhete; quer lhe encontrar. Carta mal escrita. Sem novidades. Uma única memória. Impessoal e narrativa. Sem endereço, remetente, direção.
Com a caneta nas mãos ela encara as estrelas. Perdida, sorrindo, contando segredos que elas podem guardar.

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