Ele é... diferente. De tudo o que eu já conheci. E eu o conheço há muito tempo.
No começo a gente lutava, e quando eu tentava o afastar falando mais alto, ele chegava mais perto de mim. Teimoso. Mas sabe, acho que ele só estava fazendo o que achava certo, e acabou tornando-se certo com o passar do tempo.
Há tempos nos quais ele me crucifica. Berra alto dentro de mim, e grita tudo o que eu não gritei. É ensurdecedor. Me maltrata. Faz meus ouvidos sangrarem.
Ele me segura pelos punhos e joga meu corpo contra a parede. Me machuca. De boca calada e com as mãos nas minhas, ele dá um jeito de arrancar meu coração. Apertá-lo veementemente e sem dó.
Há tempos nos quais ele é meu melhor amigo. Entende meus problemas e entende que eu não poderia falar. Então ele senta ao meu lado e me completa.
Me olha sem expressão e eu não me preocupo em encará-lo. Ele sabe que não é preciso, e que olhar em seus olhos me faria chorar.
No tempo certo ele me traz pra perto. Me abraça, brinca com meus cabelos. Eu ouço seu coração bater tranquilo e me acalmo. Paro de tremer e volto a raciocinar.
Eu o agradeço e ele vai embora. Geralmente depois do jantar. Não me importo em dividir minhas refeições com ele. Minha mãe no entanto, não parece sentir o mesmo. Nunca o viu com bons olhos, mas nunca procurou conhecê-lo como eu. Meu pai parece que nunca o notou. Mas eu não o deixaria voltar sem um prato de comida.
Em público, ele me defende. Seja de quem for. Ele não tem medo de ninguém, e mesmo enquanto briga com quem me machuca, não tira os olhos de mim. Ele é terno e atencioso.
Às vezes ele se constrange. Sente que não é bem-vindo, bem visto. Tem lá seus problemas de auto-estima. Mas ele vai levando, e parece que leva bem.
Eu o amo. Eu nasci para ele, e ele nasceu para mim. Só que... Sabe como é, não podemos ficar perto um do outro por tempo demais, o ciume impera nessa relação.
Mesmo assim a gente se vê sempre, são raros os dias nos quais ele não me surpreende no meio da noite, sussurrando ideias.
Meu querido, meu amado, minha metade, meu silêncio.
Sem pé nem cabeça
Há 10 anos
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