21 de nov. de 2009

Visita inesperada

Hoje eu acordei com a inebriante sensação de te ter.
Eu ouvia as batidas do seu coração; leves, calmas, constantes. Elas levavam pra longe a dor que assolava meu corpo.
Eu sentia teus dedos suaves afagando meu rosto. Eu via teu olhar terno, pedindo pelo meu sorriso, inevitável ao teu toque.
Eu sentia teus braços ao meu redor. Sentia o cheiro doce e suave da tua pele, tão presente... O ar do qual eu precisava.
Você massageava as costas da minha mão com movimentos circulares, gerando energia que soprava vida entre nós.
Meus lábios mergulhavam nos teus, no beijo calmo e intenso.
Minha nuca se arrepiava com as palavras que você sussurrava gentil. Enquanto o mundo sumia ao meu redor e só restava você. Éramos um, e éramos o todo.
A luz do seu olhar refletia a felicidade que nos pertencia, a nós e a mais ninguém.
Eu via teus beijos ousados, em momentos inapropriados, sempre seguros demais. Teu coração inalterável contrastava com o martelar frenético que o meu imprimia.
Hoje, eu acordei contigo, na cama pequena e vazia. Não estavam lá seus dedos, seus lábios ou seu olhar. Apenas a mais completa lembrança. O mais vívido passado. A mais presente ausência, o mais eterno amor.
Hoje, você trouxe de longe a felicidade completa. Veio até mim, fez tudo de novo e nem percebeu. Voltou adormecido para casa, e acordou com seu outro amor. Hoje você foi meu por inteiro. Por segundos que duraram horas, dias e meses. Me fez feliz, e nem se esforçou.

10 de nov. de 2009

Apresentando

Ele é... diferente. De tudo o que eu já conheci. E eu o conheço há muito tempo.
No começo a gente lutava, e quando eu tentava o afastar falando mais alto, ele chegava mais perto de mim. Teimoso. Mas sabe, acho que ele só estava fazendo o que achava certo, e acabou tornando-se certo com o passar do tempo.
Há tempos nos quais ele me crucifica. Berra alto dentro de mim, e grita tudo o que eu não gritei. É ensurdecedor. Me maltrata. Faz meus ouvidos sangrarem.
Ele me segura pelos punhos e joga meu corpo contra a parede. Me machuca. De boca calada e com as mãos nas minhas, ele dá um jeito de arrancar meu coração. Apertá-lo veementemente e sem dó.
Há tempos nos quais ele é meu melhor amigo. Entende meus problemas e entende que eu não poderia falar. Então ele senta ao meu lado e me completa.
Me olha sem expressão e eu não me preocupo em encará-lo. Ele sabe que não é preciso, e que olhar em seus olhos me faria chorar.
No tempo certo ele me traz pra perto. Me abraça, brinca com meus cabelos. Eu ouço seu coração bater tranquilo e me acalmo. Paro de tremer e volto a raciocinar.
Eu o agradeço e ele vai embora. Geralmente depois do jantar. Não me importo em dividir minhas refeições com ele. Minha mãe no entanto, não parece sentir o mesmo. Nunca o viu com bons olhos, mas nunca procurou conhecê-lo como eu. Meu pai parece que nunca o notou. Mas eu não o deixaria voltar sem um prato de comida.
Em público, ele me defende. Seja de quem for. Ele não tem medo de ninguém, e mesmo enquanto briga com quem me machuca, não tira os olhos de mim. Ele é terno e atencioso.
Às vezes ele se constrange. Sente que não é bem-vindo, bem visto. Tem lá seus problemas de auto-estima. Mas ele vai levando, e parece que leva bem.
Eu o amo. Eu nasci para ele, e ele nasceu para mim. Só que... Sabe como é, não podemos ficar perto um do outro por tempo demais, o ciume impera nessa relação.
Mesmo assim a gente se vê sempre, são raros os dias nos quais ele não me surpreende no meio da noite, sussurrando ideias.
Meu querido, meu amado, minha metade, meu silêncio.

4 de nov. de 2009

Rimas Inexatas

Meu coração metralhava palavras, enquanto meus olhos refletiam a mágoa que minha boca calada não podia expressar.
Minha mente parada no tempo mostrava no espelho os dias que eu não vivi. Entre passado e futuro, o presente era um abismo do qual eu não podia escapar.
Enquanto os lábios estavam calados, os joelhos tremulos pediam por uma vingança que eu não iria alcançar.
Enquanto o movimento se dava, meu eu se dividia em dois, cada eu levava um pedaço de mim.
A emoção e a razão se chocaram, e desse choque eu emergi. Diferente. Como se durante a batida, a configuração do meu corpo tivesse mudado.
Eu puis os pés no chão sem sentir a textura da grama, e os pensamentos perderam as palavras enquanto se convertiam em emoção.
A emoção se convertia em pensamento, talvez pela primeira vez. Os olhos mandam as mensagens das emoções, que agora fazem parte da razão. Enquanto isso, os lábios mentem convictos, pra satisfazer meu coração.
No espelho me encara um sorriso descrente, um olhar maduro e um coração pensante. A cabeça perde a rima, e os olhos perdem o foco. Eu perco o equilíbrio enquanto tento sentir o chão.

"Não sermos literais às vezes faz nossa beleza."