27 de set. de 2013

Não

Há coisas que você não pode pedir à uma mulher. O silêncio é uma delas. Ainda mais a mim. Eu, tão dada à palavras.
E enquanto eu expresso minha recusa, teu desejo se sobrepõe.
Vem de dentro, o silêncio. Quase que do meio do peito. Um pouco mais pra esquerda. Envolve-me o coração e é como se de repente eu notasse que ele tem menos espaço pra bater.
Coloco-me na ponta dos pés. Dois dias atrás eu reparei que não sei mais dançar na ponta dos pés. Foi embora o último resquício das aulas de balé.
Por isso mesmo, eu titubeio. Respeito aos teus desejos como se eles fossem justos. Enquanto isso, respondo como bem quero, de lábios cerrados. A voz ecoa na cabeça. Mas hoje eu descobri, querido, que ela passa pelo peito antes de chegar à boca. E ali ela para. Vira sussurro e se dissipa. Como uma mensagem escrita à beira do mar. Como se cada batida do coração fosse uma onda que enfraquece os contornos. E em pouco tempo, é como se nada houvesse ali, em tempo algum.
Eu...
Eu já disse isso antes. Centenas de vezes.
Eu...
Eu acho que dizer isso agora, tornaria as coisas muito dramáticas.
Porque a gente se preocupa demais. Falo de nós. Dois. Não eu e você, ou eu, ou você. Aquela terceira pessoa que surge quando os laços são fortes o suficiente para que da coletividade surja uma personalidade in (e em) comum.

(É importante esclarecer que aqui não existem entrelinhas. Apenas uma mulher em construção, daquelas incapazes de se manter calada.)

8 de set. de 2013

Segunda-feira

Sentada à mesa, em silêncio, eu mastiguei. Ignorando aquele olhar que me engolia. Que esperava respostas. Mastiguei palavras duras, com gosto de massa crua, por causa daquele pão mal assado do café da manhã.
Mastiguei palavras burras enquanto o tiquetaquear do relógio evidenciava que minha resposta já demorava demais. Eu continuei olhando para o pão e pensei que aquela padaria era uma droga. Mas o pão era mais barato que em qualquer outro lugar.
Quem me encarava já era só sombra. Era como se aquele corpo tivesse sido absorvido pela cena. Como quando se acorda no meio da noite e se leva um susto com um invasor no quarto e, em seguida, se percebe que é só uma roupa pendurada no cabideiro. Era como se aquele olhar em agonia fosse só um casaco quase limpo do dia anterior. "É como se você fosse um casaco", pensei. Mas não disse. Aquilo nada tinha a ver com a conversa e seria perfeito pra quebrar o silêncio se aquilo fosse uma história. Mas não era. Aquilo era a vida.
Tomei um gole das palavras com gosto de chá de frutas vermelhas. Doce demais para aquela cena. Se fosse uma história, seria café. Mas eu não tomo café. Nem mesmo em realidades hipotéticas.
Havia algo a ser dito, e então eu sorri. Eu levantei os olhos e sorri aquele sorriso que qualquer um que me conheça bem, já viu mais de uma vez. Aquele sorriso de "eu queria chorar, mas vou sorrir." Que acaba em choro num intervalo de 10 a 100 segundos, dependendo da reação de quem me vê.
Eu ruminei aquelas palavras secas e pesadas, que não cabiam no estômago, nem no coração.
E quem me assistia, não entendeu. Nem o silêncio, nem o sorriso, nem as lágrimas que agora já aqueciam o topo do rosto, mas que não chegariam a rolar pela face.
Quem me assistia, estava inerte e confuso enquanto eu sentia aquelas palavras embrulharem o meu estômago e voltarem à boca. Mas elas não passariam da boca. Aquelas palavras foram engolidas à força, porque elas eram minhas. Era minha aquela dor. Aquela loucura não pertencia à mais ninguém, e assim permaneceria.