29 de out. de 2012

Movimento interno

"De jeito nenhum", ele diz enquanto busca mais uma dose.
Os olhos capturam um sorriso e suplicam ao coração embriagado.
"Mas é claro que sim!", se contradiz contente o coração.

Vem o tempo. E a consciência.

"E se der errado?!", pergunta ofegante o pulmão.
"É melhor do que ficar aqui esperando." protestam os pés.
"Para onde? Com quem? E a vida? E depois? Para onde?" discutem aflitos os dedos trêmulos.
"E ele?", pergunta o peito.
"Já foi. Não vai voltar." intromete-se o cérebro.
Por um instante todos param.
"De jeito nenhum..." ele repete, e já não sabe mais a quem responde.
"E nós?" manifestam-se os olhos.
"Já passou da hora de fechar." adverte o cérebro sem muita autoridade.
"Calem-se." diz a alma com candura. "Vai dar tudo certo. Descansem; e quando estiverem todos em silêncio, encontrarei uma solução."

23 de out. de 2012

Partiu o último trem. Meia-noite. A história virou lenda e a estação virou pó.

3 de out. de 2012

Medidas

Numa manhã cheia de nuvens, ainda na cama, ela agarra o fantasma que é mais dele do que do tempo. Antes ela quisesse o que passou. Antes ela quisesse reaver o tempo perdido. Antes ela quisesse parar num momento passado.
Ela quer o agora. Quer explicar porque é tão certa essa bagunça por cima de tudo. O porque de ter parado de segurar flores secas por entre as mãos e saído em busca de socorro pra quem não lhe pede ajuda já há tanto tempo. Mas sabe que esse plano é um tanto frouxo. E que explicações não resolveriam nada. Nem mãos. Nem cheiros.
Certas coisas só cabem ao tempo, desde que esse esteja aliado à paciência e a tudo aquilo que cabe da sinceridade nesse palácio de cristal. Tão forte, tão límpido e tão frágil.