Lá estava eu, deitada por não ter opção. Rodeada de flores que com certeza não eram minhas preferidas. Mas valia a intenção. Sabia que não deviam ter sido baratas e estava grata por alguém tentar fazer deste evento patético algo bonito. Mesmo que não fosse.
Sempre achei que essas salas eram antiquadas e escuras demais. Mas entendo que haja um motivo para isso. Cores vibrantes e um sofá bacana soariam irônicos.
Por estar deitada, só consigo ver aqueles que se aproximam de mim. Mesmo assim, evito seus olhos. O medo é maior que a curiosidade.
Será que estão chorando? Posso ouvir ruídos distantes, mas não posso distinguir nada. O som é abafado, como se eu estivesse em outro cômodo.
Não. Como se eu estivesse embaixo d'água. Isso. Essa é a sensação exata. Até mesmo no corpo. Quando o ar está prestes a acabar e parece que as costelas apertam o que resta do peito. Aliás, falando em aperto, essa não foi a roupa que eu escolhi para a ocasião.
Sabia que eu devia ter deixado tudo por escrito... Queria aquele vestido branco, leve, que ganhei num natal distante. Não sei se o corte se adequa a uma ocasião tão séria, mas nunca fui adequada ao que é sério de qualquer forma.
E... sei que vai parecer bobeira, mas as aparências a esta altura não importam mais. Sempre achei que aquele vestido era próprio de um anjo. Que era minha peça mais linda, e mesmo assim nunca tive uma oportunidade de usá-lo.
Te digo uma coisa: eu casaria com aquele vestido. Mesmo.
Aos poucos o salão esvazia. Conforme o grupo fica menor, o volume das conversas aumenta. Como se os estranhos que voltam para suas vidas levassem consigo um pouco do constrangimento típico dessas ocasiões. Eu continuo calada. Em certos momentos, é como se nem estivesse lá.
Em outros, não há nada além de mim.
Sem pé nem cabeça
Há 10 anos
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