Enquanto teus dedos insistentes percorrem as cordas ou os teus olhos exigentes percorrem as páginas, eu corro de novo para o mesmo lugar.
Puxo do topo da pilha uma memória já gasta, que enrosca sempre que tocada. Nela, o mais presente é o som do meu próprio coração. Ansioso, fazia de tudo pra se controlar.
Chovia em nosso jardim. De onde estávamos, podíamos ouvir o som da chuva no telhado e, a luz da lua nova no alto do céu, tornava a cena impossível, beirando o irreal. Ainda assim, era verdade. Obedeci ao que me pedia e não abri os olhos. Uma obediência que não me é própria; que só você pôde arrancar de mim.
Tuas mãos tiram cautelosas os meus sapatos. Minhas meias te frustram, mas àquela altura não há nada a fazer. A música oscila enquanto você se move de um lado a outro. Por fim nossos dedos se encontram. Duas, três vezes. A memória demora para voltar a passar.
A luz fraca e bruxuleante acompanha o movimento que eu mal posso fazer. No paraíso, o cheiro inebriante que pertence a mim tanto quanto a ti dá a calma que preciso para continuar respirando.
As palavras passam rápido demais numa cena em câmera lenta. De nada adiantou a legenda.
Três passos pequenos para que eu possa contemplar tua devoção. Depois, o indescritível. Um tempo indeterminado onde eu faço tudo o que posso para registrar a beleza de um cenário do qual me consideravas digna.
Olhos. Braços, pernas e mais olhos. Os mais carinhosos que já conheci.
Risos e chocolate.
Fim.
Sem pé nem cabeça
Há 10 anos
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