Deve ser coisa de adolescência, mas acontece toda vez que eu saio de casa.
Eu entro no ônibus e alcanço um lugar da janela. Logo, somem todos os rostos ao meu redor. Todo som é silenciado pela música que soa consistente e sólida em meus ouvidos e as imagens perdem a forma para tornarem-se apenas um apinhado de cores e luz.
A única coisa que me resta é um punhado de palavras leves e sem pretensão alguma, que escorrem pelos dedos na hora certa.
-
Me diga, você viria comigo? Apenas em silêncio? Deixaria que ele nos guiasse pra qualquer lugar onde o pôr-do-sol fosse a única imagem que fizesse sentido aos nossos olhos foragidos?
Você viria sem perguntar por quê? Sem precisar de convite, ou até mesmo de razão para estar alí?
Ao chegar lá, você saberia a hora certa de pegar minha mão? De encontrar meus lábios e cair no chão? Saberia que então contaríamos estrelas, esperando que elas caíssem do céu; e preguiçosas, repousassem e adormecessem em nossas mãos?
Passaria a noite ao meu lado, dizendo qualquer bobagem ao pé do meu ouvido só pra encontrar o meu sorriso?
Me diga, mesmo que não lhe faça sentido, depois desse humilde pedido... Você esqueceria do mundo e fugiria comigo? Pra qualquer lugar, um lugar comum; distante do resto e tão perto de tudo... Um lugar qualquer; simples, calado? Você viria só pra estar ao meu lado?
Sem pé nem cabeça
Há 10 anos