A verdade é que dos meus amores, o mais memorável foi aquele que mal me percebeu desta forma.
Ele era uma brisa de verão, que passou voando por mim sem nunca encontrar meus lábios.
Se anjos existem, eu tenho a certeza de que aquela foi a chance que Deus me deu para ter um vislumbre de meu guardador.
Ele fez meu coração disparar antes mesmo que eu pudesse vê-lo. Não foi me procurar. Sentou-se no canto e esperou que eu criasse coragem.
Eu nunca criara coragem tão rapidamente. Andei até ele e tive a certeza de que fazia a coisa certa assim que ele ergueu os olhos para me encarar.
Seu olhar me deixava desajeitada, mas ainda assim, segura. O movimento de seu peito indo e vindo conforme sua respiração me deixava em paz.
Mas um anjo na Terra precisa se disfarçar. Por isso ele era torto. Ele era errado, errava quando podia, e assim se fazia um ser comum e ordinário.
Devo dizer que apesar de um ótimo anjo, ele era um péssimo ator. Aquele garoto errado que conhecia a coisa certa só pra poder errar, chamava a atenção de todos.
Mesmo assim, ninguém o notava como eu. Ninguém conhece melhor cada detalhe daquele rosto, daquele pescoço, daquele corpo. Aquele era meu anjo e eu fiz questão de memorizá-lo por inteiro.
Há muito o Tempo tirou o anjo do meu lado. O anjo torto encanta outros rostos. Mas me visita em meus sonhos. Me visita em minhas memórias e dá sempre um jeito de escapar. De aparecer por aqui, de uma maneira ou de outra. Meu anjo errado, tão amado, nunca deixou de me proteger.
Sem pé nem cabeça
Há 10 anos
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