26 de out. de 2009

O balanço e o tempo


Eu levanto os olhos do travesseiro e olho o relógio. Ainda são 7:15.
Eu deito de novo e volto a encarar o teto. Ainda não é hora de levantar.
Eu sei disso porque o sol me indica que a tarde ainda não passou. Ele invade os olhos que eu teimo em fechar.
Eu mesma parei o relógio. Ele estava me enlouquecendo.
Tic-tac, tic-tac, tic. Nesssa ordem. Sempre avante e constante. Sem dó. Sem vacilar. Sem voltar. Sem passos silenciosos. O tempo jogava na minha cara as mudanças que eu vi acontecer.
Então eu parei. Eu joguei fora as pilhas do relógio. Troquei o tic-tac dos segundos duros e apressados, pelo som de um violino que vai e volta numa melodia calma.
A melodia toca uma, dez, cem vezes... Eu já nem sei.
Toca desde o momento em que fechei os olhos.
O violino vai e volta. A melodia é pausada. Apesar da melancolia, tem lá seu toque de esperança.
É o oposto completo dos segundos. Eu fecho os olhos e faço da música meu relógio. Contador de tempo.
Vai, e volta. Como um balanço que me acalma. No balanço, meus pés não tocam o chão. Nem mesmo no momento mais baixo.
O vento acaricia meu rosto, e eu vejo meus anjos dançando no céu. Todos eles. Eles mal me notam, mas estão todos alí pra me proteger.
Só que eu brinco de faz-de-conta. Eu brinco de cuidar dos anjos, que cansados param de dançar. Meus anjos sentam nas nuvens e eu paro de balançar.
As nuvens pesadas choram, chovem e então eu falho. Eu não protejo meus anjos que não podem voar.
Os anjos caem, um a um. Junto com a chuva violenta. Eu abro os olhos porque a melodia acabou. Eu adormeci e alguém levou o violinista. Alguém pois as pilhas de volta no relógio. Tic-tac, tic-tac-tic.
Em desespero, eu chamo pelo violinista, que atordoado volta a tocar. Arranco as pilhas do relógio e encaro o céu a chorar. Por fim eu fecho os olhos, pra voltar a balançar.

Nenhum comentário: