5 de jul. de 2009

Roubando Tragédias

Um dia de sol, num parque qualquer, os olhos da moça eram estáticos. As mãos eram tensas. A cena era bela e não fosse o estado de choque, ela choraria. Não de alegria ou comoção. Choraria de dor. Um beijo selava o último golpe. Era o último suspiro de um coração cansado.
Mas, injusta como era a vida, nem mesmo o beijo lhe pertencia. Não. O beijo era do rapaz. Ele não viu a moça.
Com o fim de um amor, outro nascia. Entre o rapaz e... Entre o rapaz e quem? Do banco eu não avistava o outro lado do beijo. As lágrimas da moça refletiam somente o rosto do rapaz. Imagino que ela também não tenha reparado em quem o rapaz beijava.
Eu ouvia seu coração, descompassado, aflito, querendo fugir. Eu sentia suas pernas, pesadas, teimando em não se mover. Eu estava em suas memórias, passando como filme, rápido demais. Eu era sua visão, conturbada, transbordando lágrimas.
Do outro lado da praça, sem ser ouvida, eu disse a ela que desviasse os olhos.
Então, ela se libertou. Os segundos voltaram a passar e ela correu. Ela tropeçava nos próprios pés, e não sei se dizer se chorava ou sorria. Não sei para onde foi nem o que fez. Aquela vida não era mais minha.
Voltei meus olhos para o parque, à procura de outra vida para viver, de outra história pra roubar.

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