26 de mar. de 2009

Súplica

O mundo, a vida, eu e até mesmo outras pessoas, me ensinaram que escrever era o melhor remédio para curar uma dor qualquer.
Pois acho que abusei das palavras. Usei-as quando não era necessário só por achar divertido. Agora, eu as chamo, mas elas estão fartas demais para vir até mim.
Quando lhes conto meus problemas, elas não ouvem, talvez até o façam, mas fazem questão de ignorar cada fragmento dos sentimentos que tento expressar. Olham uma para as outras e balançam a cabeça negativamente.
Algumas saem do quarto, outras me dão as costas. São poucas as que tem a coragem de me encarar de frente. São poucas as que consideram oferecer-me apoio. A estas, eu não tenho a decência de agradecer. Apenas as uso, como já fiz tantas vezes, e como continuarei a fazer pelo resto dos meus dias.
Mas no fundo, tudo é medo. Medo de que tais palavras de coragem percebam que me ajudar é um erro. Medo de que elas se unam à aquelas que agora procuram outra "mãe". Medo de que se vá a Felicidade, a Esperança, e que no fim, o único que me olhe nos olhos, seja o próprio Medo.
Voltem palavras, por favor! Eu lhes imploro, voltem e tragam a Inspiração com vocês. Me deixem jogar a culpa em vocês. Me deixem dizer que são vocês que não me deixam dormir. Me deixem falar, me deixem pensar. Me façam voltar, me façam sentir... É tudo que eu lhes peço, amadas palavras.

4 de mar. de 2009

Mimos

Hoje a Felicidade brincou comigo de várias maneiras. Não foi o despertador, mas a Felicidade que me sacudiu da cama antes mesmo de o sol nascer. Ela acordou agitada, e correu de mim, sem sair da minha vista; esperando que eu fosse atrás dela, num jogo de pega-pega infantil.
Mas eu me limitei a sorrir. Eu acabara de acordar, e meu humor ainda não me deixava correr. Ela fechou a cara.
Tomei meu café-da-manhã agindo indiferente à aquela criança bicuda na minha frente. Não por maldade, somente para educá-la. Quando uma criança se porta de forma mimada, eu faço questão de ignorar. Não é porque a Felicidade é especial, que deva ser tratada de forma diferente.
Durante a manhã, ela me seguiu, apenas mostrando que estava lá, mas sem me tocar, sem me olhar nos olhos. Imagino que estivesse magoada. Continuei ignorando-a.
Durante o almoço ela pareceu um pouco melhor... Ficou mais perto de mim, me olhava de canto.
No decorrer da tarde... Ela despertou, não me deixou em paz. Corria de um lado a outro, derrubava livros, me cutucava, tirando minha concentração.
Foi quando eu te vi... E ela correu, pra longe de mim, como se não houvesse amanhã. Não entendi, não me abalei.
E foi quando você me viu... Foi quando a Felicidade tentou te agredir... E você nem percebeu. Você a segurou, a tomou para si.
Corpos se tocaram, frases foram trocadas. Foram segundos, talvez minutos... E foram tão eternos... Tão...felizes.
Porque foi quando teus braços encontraram os meus, que a Felicidade me agarrou, e lá ficou, e ainda fica... Enquanto eu imito o teu enorme sorriso, horas depois de ele ter surgido.
Eu ainda imito seu sorriso, a Felicidade continua presa à mim, e foi quando eu entendi. Ciúme. Minha Felicidade tem ciúme de você, tanto quanto eu... Ah! Essas crianças mimadas!