1 de out. de 2010

Ao detentor do meu afeto

Decidi, num momento de reflexão, contar-lhe um dos poucos segredos que guardo de ti. Daqueles bobos e doces, que só podem ser justificados aos olhos dos normais quando estes bebem da fonte da paixão.
Por favor, não sinta-se magoado ou entristecido por ter-lhe escondido um segredo, já que este é tolo o suficiente para que eu mantenha para mim. Apesar disso, sinto que ele lhe pertence, e o entrego a ti afim de que faças dele o que quiser.
"Star light/Star bright/The first star I see tonight(...)" a canção de ninar data do século XVII, e esteve comigo muito antes de que eu tomasse ciência da mesma. A fascinação pelas estrelas talvez tenha nascido comigo, talvez tenha sido fabricada antes que eu percebesse. Fato é que ela me acompanha desde que fui apresentada ao meu eu.
Sempre coube à primeira estrela da noite guardar um pedido em troca de um sorriso infantil. O contrato era implícito e nunca teve de ser revisto. Curiosamente, a primeira estrela que eu avistava era sempre a mesma. Aos poucos, ficamos íntimas. Aos poucos, ela também sorriu para mim. Me olhava com ternura; soube de mim. Não recebia mais apenas desejos. Guardava meus anseios, meus segredos.
O tempo passou e ela acabou esquecida. Bom, não totalmente. Eu ainda a admirava, mas deixamos de conversar. Em certas noites eu a notava sorrindo para mim, e eu retribuía o sorriso, envergonhada por ter deixado que nos afastássemos.
Certa noite, após despedir-me de ti, notei os olhares intensos que esta lançava para a Lua, distraída e serena. A estrela me notou, nossos sorrisos se encontraram e logo nossa cumplicidade fora reestabelecida. Por horas, falei de ti.
Não foi a primeira história de amor ouvida por ela, nem a mais fantástica. Mas não tive essa pretensão.
Depois dessa noite, voltamos a nos encontrar com regularidade. E a estrela distante da Lua passou a ouvir juras diárias de amor. Guardou-as consigo, e agora quero entregá-las à você.
Para encontrá-la, em tua próxima noite livre, espere o anoitecer. A Lua ainda estará caminhando ao alto do céu. Defina-a como teu norte, e deixa que teus olhos vaguem pelo sudeste até que esses encontrem a estrela mais brilhante de todas; é ela que guarda meu amor por ti.
Com certeza você já a notou, assim como qualquer outro que já observou as profundezas do céu. Concentre-se nela, mesmo que por um instante indeterminado não lhe faça sentido. Aos poucos, poderá ouvi-la, com milhares de vozes, centenas de línguas, no timbre inconfundível daqueles que enlouquecem de amor.
Fecha teus olhos e procura minha voz. Quando encontrá-la, deixe que ela fale contigo. Deixe-me chegar até você através de palavras, até que estejamos tão próximos que meus lábios por fim alcancem os teus; que sejamos enfim, apenas um.