29 de set. de 2010

Veja o que o tempo faz, arrastando-se diante de mim, correndo diante de nós.

22 de set. de 2010

Fatos

"Fecha os olhos", disse o homem. A mulher hesitou por um segundo ou dois.

De olhos fechados diante do amante, sentiu-se como uma criança que espera receber flores, digo, uma bicicleta de natal.

Os lábios da moça ensaiaram algo, mas foram detidos pelos lábios do homem, num beijo casto. "Espera", disse ele.

A moça juntou as mãos à frente do vestido florido, sentindo-se cada vez mais infantil. Tinha nos lábios um sorriso bobo e nos olhos um brilho puro, escondido pelas pálpebras e por uma cortina de cílios grossos que lutavam para continuar em repouso.

Ouviu que o homem se afastava e sentiu o coração apertar.

Passou-se algum tempo, não importa quanto. A moça por fim abriu os olhos. Os braços caíram ao longo do corpo e ela se viu na conhecida sala de jantar. Nada mudara naquele intervalo indefinido de tempo. A louça suja ainda repousava sobre a mesa. A luz amarela ainda tornava o ambiente convidativo e um pouco melancólico.

O tapete abafava o som de seus passos até a cadeira alta e antiga. Sentou-se em silêncio e remexeu nos talheres.

Estava só.