Verdade seja dita. Pra mim, pra você. Seja dita a todos os que quiserem ouvir, aos intrometidos e também aos infelizes que não puderam evitar pois passavam distraídos por aqui.
Somos óbvios demais. E não ache que esse texto se dirige a alguém que não seja você. Você sabe quão óbvio é tudo isso.
Como sou eu, como é um terceiro qualquer. E daí a gente tenta disfarçar; tapa o buraco na parede com um quadro do pôr-do-sol.
Usamos literatura, compomos uma canção. Pintamos um retrato, e se faltar tinta vamos simplesmente fotografar.
Nem que as palavras se percam antes de alcançar o papel. Que nos falte um violão. Nem que o mármore acabe por rachar o busto perfeitamente esculpido; pra poder ser óbvio escolhemos fazer arte.
Contar mentiras bonitas pro outro olhar e fazer de conta que não entendeu. Pra gente dizer que vem do fundo da alma e não poder censurar.
Ou simplesmente toda essa mentira seja puro capricho do artista calado, que sorri de soslaio ao público desconfiado. À aquele indivíduo que sai por último do teatro. Que espera todos os atores saírem de cena atrás de uma verdade.
Por trás da cortina o elenco finge que não vê, mas lá no fundo todos entendem. Entendem porque mentem, entendem porque fingem dizer a verdade. Entendem porque enquanto todos vão embora aquele rapaz continua alí. A gente entende que ele também sabe mentir.
Sem pé nem cabeça
Há 10 anos