13 de abr. de 2010

Fofocas

No ônibus, dois casais jovens. Separados um do outro pelo corredor. Não conte a ninguém, mas eles ocupam - todos os 4 - acentos preferenciais.
No casal da esquerda, a moça é visivelmente mais velha que o rapaz. Pouca coisa. Cerca de dois anos. Ela mexe no cabelo dele e ele parece não notar. Talvez esteja dormindo.
Até que ela nota o outro casal. O outro casal não, o outro rapaz.
Ele é inquieto. Sorri e olha para todos os lados, em oposição à sua companheira; uma moreninha que apesar do sorriso inocente, só tinha olhos para seu par.
O rapaz é tão inquieto que o movimento dos olhos não lhe basta. Ele puxa um pacote de doces e começa a comê-lo com aflição. Oferece um doce à menina. Não à sua moreninha. Oferece-o para aquela que lhe observa sentada no banco ao lado.
Por alguns momentos ela exita. Então ela tira as mãos do cabelo do menino (sim, ele realmente está dormindo) e pega o doce das mãos sorridentes do rapaz.
O olhar da moreninha era enigmático. Não trazia ciúme, nem tristeza. Trazia uma certa estranheza, como se fosse a primeira vez em que era apulanhada por seu amado. Como quem nunca sentira ciúme antes.
Talvez seu olhar expressasse a indignação que ela sentia pelo rapaz do outro lado perder sua amada de olhos fechados, talvez sonhando com a mesma.
Não. Os olhos da moreninha traziam apenas surpresa. A surpresa de quem não vivera algo parecido nem mesmo em sonho. Era um olhar quase que de curiosidade.
Provavelmente era. Afinal, ela -que parecia ser a mais velha desta cena de traição - não passava dos dois anos de idade.