26 de jan. de 2009

Notas sobre morte

Não tememos nossa própria morte. Tememos a morte do outro. Tememos nossa solidão. Se a distância já nos separa, tememos apenas o vazio.

Anjos de areia e sal, anjos de água do mar.
Anjos descidos à Terra; anjos que fazem brilhar.


Kim Manners- 1950 - 2009. Rest in Peace.

22 de jan. de 2009

Acordando

É estranho, e não faz o mínimo sentido, mas às vezes acontece. Meus olhos se abrem de repente e todo o "nada" tem um fim. Em seguida, não há dor, nem culpa, nem arrependimento, nem mesmo a sensação de que deveria sentir alguma dessas coisas.
Eu simplesmente me sinto inteira, e sinto vontade de voltar ao mundo. Me sinto racional, como não sei se algum dia fui. Não que eu sinta vontade de arrumar a bagunça na qual fico mergulhada a maior parte do dia. Minha racionalidade não chega a tal ponto. A desordem me acalma. Talvez eu não seja uma pessoa puramente racional.
Eu sinto vontade de seguir em frente. Não como um ideal distante, não como um ato de coragem pelo qual eu deveria ser premiada. Simplesmente como algo comum. Não deixa de ser uma sensação estranha (para mim, é verdade) e eu tenho a impressão de que já a tive outras vezes. Mas não tenho certeza, e sendo lógica, se possivelmente eu já passei por esse pensamento outras vezes e voltei à minha... tortura pessoal, é possível que eu o faça novamente. Por isso achei importante registrar, que por um dia, uma hora, ou até mesmo um momento, eu agi como uma pessoa madura e normal. Ou algo do tipo.

15 de jan. de 2009

Esperando (ou não) por um resgate

Eu já cansei de dizer que seus olhos me hipnotizaram, que em conjunto com seu sorriso, me roubaram de mim. Mesmo que não tenha sido dito, sabes que é verdade. Você esteve lá o tempo todo, admirando seu próprio trabalho, com um sorriso que eu retribuía sem pensar.
Me roubou de mim, e me roubou do mundo. Quando me roubou do mundo, não fiz questão de perceber. Estava deliciosamente mergulhada em ti. Quando me roubou de mim, ergui os olhos, e não fiz muita questão de fugir. O cativeiro onde tu me mantinha me parecia seguro e indestrutível; e eu gostava de te observar vigiando a porta.
Mas então você partiu, com um sorriso triste nos lábios, (Que eu imagino que estivesse forçando, um sequestrador que se preze jamais se apega às vítimas.) e a promessa de um retorno. Porém, eu não senti verdade em suas palavras. Sabia que iria voltar, mas sabia que não procuraria sua ex-vítima.
Assim eu imaginava, assim eu ainda imagino, enquanto te vejo em cada canto de um cativeiro vazio, onde meus gritos desesperados ecoam e respondem chamando teu nome. Quando saiu, foste prudente o bastante para apagar a luz. Não andei até o interruptor. Eu queria que a escuridão me engolisse. Por um tempo.
Agora, eu deveria querer sair daqui. Eu deveria correr para o mundo lá fora e sorrir agradecida por me libertar. Mas eu não posso. Sou dominada pelo medo de que ao sair, eu esqueça de ti. Esqueça do que eu aprendi com meu adorável sequestrador. Esqueça dos seus olhos, do seu sorriso, da tua voz, do teu jeito, do teu riso.
Tenho medo de dormir e não te ver em meus sonhos. Tenho medo de algum dia não ver teu vulto passando pela porta que você, distraído como sempre, esqueceu de fechar.