Eu já cansei de dizer que seus olhos me hipnotizaram, que em conjunto com seu sorriso, me roubaram de mim. Mesmo que não tenha sido dito, sabes que é verdade. Você esteve lá o tempo todo,
admirando seu próprio trabalho, com um sorriso que eu
retribuía sem pensar.
Me roubou de mim, e me roubou do mundo. Quando me roubou do mundo, não fiz questão de perceber. Estava deliciosamente mergulhada em ti. Quando me roubou de mim, ergui os olhos, e não fiz muita questão de fugir. O cativeiro onde tu me mantinha me parecia seguro e indestrutível; e eu gostava de te observar vigiando a porta.
Mas então você partiu, com um sorriso triste nos lábios, (Que eu imagino que estivesse forçando, um sequestrador que se preze jamais se apega às vítimas.) e a promessa de um
retorno. Porém, eu não senti verdade em suas palavras. Sabia que iria voltar, mas sabia que não procuraria sua ex-vítima.
Assim eu imaginava, assim eu ainda imagino, enquanto te vejo em cada canto de um cativeiro vazio, onde meus gritos desesperados ecoam e respondem chamando teu nome. Quando saiu, foste prudente o bastante para apagar a luz. Não andei até o interruptor. Eu queria que a escuridão me engolisse. Por um tempo.
Agora, eu deveria querer sair daqui. Eu deveria correr para o mundo lá fora e sorrir agradecida por me libertar. Mas eu não posso. Sou dominada pelo medo de que ao sair, eu esqueça de ti. Esqueça do que eu aprendi com meu adorável sequestrador. Esqueça dos seus olhos, do seu sorriso, da tua voz, do teu jeito, do teu riso.
Tenho medo de dormir e não te ver em meus sonhos. Tenho medo de algum dia não ver teu vulto passando pela porta que você,
distraído como sempre, esqueceu de fechar.